Nos
segundos de cada respiração da qual se inspirava ao velho conhecido perfume eu
consegui esquecer totalmente que a menos de uma semana atrás aquele a quem eu
estava possuindo em forma de cheiro tinha me feito chorar descontroladamente. No
breve movimento dos lábios dele me perguntando como eu estava senti vontade de
me despir e ser possuída ali mesmo, dentro do carro, com as portas abertas, com
o som de “Time After Time” que vinha do rádio ligado. Tive vontade
de dizer que senti saudade, desejo, tesão e até um pouco de ciúme. Que imaginei,
desejei, procurei, sonhei e quase o vi com outra(s) e deixei esses pensamentos
corroerem qualquer/toda lembrança boa da intensidade vivida na última noite que
colamos nossos corpos nus durante uma madrugada inteira. Ainda abri a boca pra
falar que ele parece ficar mais novo a cada sorriso dado, mas antes disso pude o
ouvir dizer que MEU sorriso é encantador. Todo ciúme tinha me feito esquecer
como as palavras dele são macias, com cheiro de algodão doce e gosto de água com
limão. Se ele soubesse como naquele momento fiquei mole e caída teria me pego
pelo braço e levado embora, eu teria ido pra todo e qualquer lugar com ele. Junto
de tudo veio as lembranças da última conversa, ele falava, e eu só conseguia
repetir a palavra INTENSIDADE, INTENSIDADE, I N T E N S I D A D E... Esqueci das lágrimas que derramei, das
palavras que ouvi, das coisas sem nexo que falei, as lembranças do nosso último
prazer era o que dominava meu (IN)consciente.
Deixei
ele falar tudo que queria, que tinha, que podia... Sentia a ponta dos dedos
dele percorrendo meus braços e encontrando os meus dedos, as cores misturadas
sempre ficam lindas, preto com branco. Olhei pra o rosto, vi o sorriso. O resto
eu não lembro... Ele é sedutor, é encantador, é sexy e lindo. É LINDO. Gosto
das pernas dele, da pele dele, do cinto que ele usa, da camisa pólo, da impressão
que os braços dele me dão de que ali não tem pêlo, gosto de escorregar pelos
olhos dele e cair na nuca, gosto do pequeno espaço entre o nariz e a boca dele,
passar a língua naquele “ocinho de homem” que ele tem no pescoço, gosto do bico
que ele faz enquanto emenda as sobrancelhas e joga o olhar pra distante na expressão
de dúvida que só vem dele, gosto do peito, dos braços e até do pêlo da axila. Tudo
me parece poético. Ao lado de todo esse conjunto eu me sinto pisando em área movediça,
em chão de mar, em nuvem, em algodão, me sinto em uma terra que parece ser
conhecida, mas que mesmo assim ainda me propicia curiosidade de me envolver em
tudo de novo, e novo, e novo... E daí depois
de tudo já esqueci de toda e qualquer raiva, foi só sentir os lábios colando no
meu, rápido e intenso, intenso, intenso...
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